Evangelizar as juventudes passa, antes de tudo, por compreender o que se pode chamar de reposicionamento pedagógico. Em de vez de imaginar um processo de cima para baixo, é preciso olharmos as juventudes na perspectiva horizontal e circular. É mudar a ideia do “oferto algo a alguém” e propor o “construo junto com”. As pistas nascem da expressão poética e edificadora do próprio Jesus – Ele mesmo um jovem protagonista e apaixonado pela dignidade humana. A seguir, dez propostas/pistas para ajudar no caminho.
1. Fascinar-se pelas juventudes: evangelizar jovens requer encantamento pela realidade afetiva, sociocultural e existencial na qual eles/elas estão inseridos/as. Ninguém consegue dialogar com jovens se carregar preconceitos e estereótipos. Não cabem comparações entre gerações e é um erro grave atribuir todos os problemas da sociedade às juventudes. Antes, é preciso ver no/a jovem a novidade, a capacidade de enxergar o mundo com olhar poético e os múltiplos afetos que são próprios dessa fase.
2. Aproximar-se: muitos pensam que, para estar perto dos/as jovens, é preciso atraí-los de alguma forma. Surgem todo tipo de estranhas maneiras que se pretendem chamativas, mas mostram-se equivocadas, estereotipadas e acabam por distanciar muitos grupos. O gesto da aproximação deve ser aberto e livre. Não significa apenas frequentar lugares, mas conhecer, sentar junto, partilhar, perceber e experimentar as realidades múltiplas que cercam a vida das juventudes.
3. Escutar: você já se perguntou quais os sonhos e projetos das juventudes? O que as move? Sabia que existem vários e diferentes grupos e que cada um tem suas linguagens e vivências próprias? A escuta é fundamental para reconhecer no outro a dignidade que lhe é própria e, a partir daí, construir pontes para o diálogo. É necessário deixar-se afetar, num gesto de entrega missionária integral.
4. Discernir COM: entender as angústias próprias das juventudes requer uma troca constante. É preciso considerar as ameaças de um sistema econômico excludente, que resulta no medo do desemprego, da violência e do esquecimento. É, também, necessário considerar as dores psíquicas que não estão descoladas da complexidade social. Ao situar-se no chão juvenil, é possível discernir e elucidar caminhos para que a missão seja mais sólida e cercada de cuidado.
5. Converter-se e comover-se COM: seguir Jesus é assumir o caminho do discipulado que reconhece a novidade sagrada também nas/os jovens. A conversão é de quem transfigura-se em amor pelo que as Juventudes têm a revelar do divino e, com elas, comover-se pela realidade a ser transformada.
6. Entender as Juventudes como PROTAGONISTAS: é difundido o senso comum que relega aos jovens um papel de figuração nos processos decisórios em todos os espaços. Na comunidade, é uma tarefa fundamental a percepção das/os jovens enquanto protagonistas. Eles/elas têm muito a oferecer enquanto reflexão, ações e novas ideias. O protagonismo reconhecido não é um presente, porque vem da própria luta juvenil que já o reivindica historicamente.
7. Valorizar a integralidade HUMANA das/os jovens: educar na fé deve estabelecer perspectivas temáticas que entenda o/a jovem em sua totalidade. Por isso, é importante trabalhar as dimensões do (a) autoconhecimento, (b) da relação afetiva com o outro, (c) da espiritualidade e mística, (d) da relação com a sociedade e (e) os aspectos práticos do agir missionário e transformador.
8. Criar mecanismos criativos de trabalho: valorizar a arte, as construções coletivas, o lúdico e a multiplicidade da cultura juvenil são passos fundamentais para sair dos lugares comuns.
9. Promover experiências coletivas e participativas: o comunitário é o centro da prática pedagógica da evangelização. Valorizar a nucleação de grupos, de experiências que garantam a participação e promovam o crescimento formativo é um caminho fundamental.
10. Não tratar jovens com infantilismo: jovens não são crianças que precisam de tutelagem. Precisam de acompanhamento, afeto e cuidado. Estar junto é diferente de exercer um desejo de controle, domínio e usurpação de seu lugar transformador. A experiência de infantilizar o/a jovem ocorre quando se pretende percebê-lo/la como irresponsável. Jogue fora seus preconceitos. O Papa Francisco ressalta, na Exortação Apostólica “Christus Vivit”, a seguinte reflexão: “14. Notemos que Jesus não gostava que os adultos olhassem com desprezo para os mais jovens ou os mantivessem, despoticamente, ao seu serviço. Pelo contrário, pedia: “O que for maior entre vós seja como o menor» (Lc 22, 26). Para Ele, a idade não estabelecia privilégios; e o fato de alguém ter menos anos não significava que valesse menos ou tivesse menor dignidade”.
Por Vinícius Borges