A experiência inclusiva de extensão no Ateliê Poesia e Vida com pessoas idosas em instituições e na comunidade
Robson Figueiredo Brito(1)
Maria Madalena Loredo Neta(2)
Resumo: Apresentamos a experiência extensionista Entre versos e memórias, do Ateliê Poesia e Vida, do Laboratório de Extensão Práticas Pesquisas, Publicações Acadêmicas e Internacionalização (LEPPPAI), da Pró-Reitoria de Extensão da PUC Minas. Com um ano e meio de atuação, o Ateliê promove inclusão social e bem-estar emocional de pessoas idosas em instituições e na comunidade, tendo a poesia como recurso de expressão e convivência. A proposta já alcançou cerca de 450 sujeitos idosos na Região Metropolitana de BH, articulando cultura, memória e afetividade. Sua metodologia baseia-se em práticas participativas e dialógicas que favorecem a escuta sensível e a partilha de histórias. Além de beneficiar os sujeitos idosos, a ação contribui para a formação cidadã e humana de estudantes da graduação, reafirmando a extensão universitária como espaço de encontro, valorização e transformação social.
Palavras-chave: extensão universitária; envelhecimento; inclusão social; poesia; bem-estar.
Texto
O Ateliê Poesia e Vida é uma iniciativa que transcende o formato de projeto, configurando-se como uma ocasião de escuta, expressão e valorização da pessoa idosa por meio da poesia. A prática extensionista promove encontros afetivos e criativos, resgatando memórias, sentimentos e histórias de vida, ao mesmo tempo que contribui para o bem-estar emocional e a inclusão social dos diversos atores envolvidos. Realizado junto a pessoas idosas institucionalizados e não institucionalizados, esse Ateliê reafirma o papel da Universidade como agente de transformação social, aproximando saberes acadêmicos e experiências populares, com a participação de estudantes de Filosofia, Teologia e Psicologia da PUC Minas.
A proposta evidencia como a arte pode ser ferramenta de cuidado, integração e promoção da qualidade de vida na velhice, constituindo-se como um exemplo de ação extensionista que articula cultura, saúde e inclusão. Criado no Laboratório de Extensão, Práticas, Pesquisas, Publicações Acadêmicas e Internacionalizaçao (LEPPPAI) da Pró-Reitoria de Extensão da PUC Minas, o Ateliê Poesia e Vida se consolidou como esfera de convivência e produção de sentidos, reunindo pessoas idosas e estudantes em torno da palavra poética. Concebido como ambiente dinâmico e participativo, o Poesia e Vida propicia vivências e reflexões que extrapolam a sala de aula, conectando jovens universitários e pessoas idosas em um diálogo intergeracional que enriquece a formação acadêmica e ressignifica o envelhecimento.
Mais do que realizar atividades poéticas, o projeto valoriza memórias, afetos e subjetividades de sujeitos idosos institucionalizados e da comunidade, reafirmando o potencial da poesia como meio de promoção de qualidade de vida, fortalecimento de vínculos, reconhecimento e valorização humana e interação dialógica da pessoa idosa enquanto sujeito de memória, história e experiência.
No Brasil, o aumento da expectativa de vida não foi acompanhado da redução das desigualdades sociais nem da construção de uma cultura que valorize o envelhecimento. A velhice é, frequentemente, tratada sob uma perspectiva biomédica ou assistencial, desconsiderando as trajetórias individuais e a riqueza das conexões humanas estabelecidas ao longo da vida. Nesse cenário, a poesia desponta como recurso pedagógico e sensível, capaz de abrir espaços de fala e escuta, resgatar memórias afetivas e promover o encontro genuíno entre diferentes gerações. Além de integrar atividades culturais, o projeto propõe inclusão em sentido amplo – afetiva, social e simbólica – reafirmando o direito de cada pessoa a ser ouvida, reconhecida e valorizada, independentemente da idade.
A metodologia adotada no Ateliê Poesia e Vida é planejada para valorizar a participação ativa e favorecer a construção coletiva de significados. A condução dos encontros inicia-se com a seleção das poesias pela professora responsável, também pessoa idosa, que escolhe os textos e define as formas de declamação, considerando os perfis dos participantes e a temática de cada atividade. Os estudantes extensionistas organizam a acolhida, com músicas, apresentações e a partilha de uma palavra que represente o sentimento de cada participante naquele momento.
A leitura das poesias começa com a voz de um estudante e, em seguida, os idosos são estimulados à participação, dando início a uma roda de conversa espontânea. Nesse momento, valoriza-se a escuta sensível, os relatos e as memórias evocadas pelas leituras. Ao final, os participantes recebem um cartão com a mensagem: “Sua presença e participação são a nossa alegria”, e com o verso: “Meu sonho é aprender a viver até eu não tenho medo do amanhã” (Ismar Dias de Matos), reforçando o vínculo afetivo e a importância de cada sujeito no processo.
Em um ano e meio de atuação, o Ateliê Poesia e Vida alcançou aproximadamente 450 pessoas idosas em Belo Horizonte e na Região Metropolitana, por meio de ações em parceria com casas religiosas, Instituições de Longa Permanência, a Pastoral da Pessoa Idosa e outros espaços comunitários. Para além da poesia, o Ateliê, com suas atividades, leva presença, afeto e escuta, estabelecendo encontros que despertam sentidos tanto nos idosos quanto nos estudantes extensionistas.
Para os jovens universitários, as histórias de vida compartilhadas pelos sujeitos idosos provocam reflexões e emoções, despertando o desejo de ouvir outros versos escondidos nas memórias de quem viveu diferentes tempos. Ao longo dos encontros, é comum ver participantes se emocionando, rindo e rememorando episódios marcantes, em um ambiente de leveza e escuta atenta. Essas vivências concretizam o que o Papa Francisco denomina “cultura do encontro”, ao propor a construção de pontes e a superação dos muros que ainda dividem pessoas, gerações e histórias. No campo da extensão universitária, o projeto reafirma a potência desses espaços como territórios férteis para a transformação de vidas, a humanização das relações e a valorização da pessoa idosa em todas as suas dimensões.
(1)Robson Figueiredo Brito, Doutor em Linguística e Língua Portuguesa, Departamento de Filosofia, Coordenação do LEPPPAI – PROEX – PUC Minas
(2)Maria Madalena Loredo Neta, Doutora em Estudos Linguísticos, Departamento de Filosofia – membro do LEPPPAI – Coordenação do Ateliê Poesia e Vida – PROEX – PUC Minas