Marcelo dos Santos Ferreira1
Fábio Cunha Coelho2
Paulo Marcelo de Souza3
RESUMO: A produção de alimentos no Brasil segue os parâmetros mundiais de produção apoiados nas tecnologias da chamada “Revolução Verde”. Por seus impactos nocivos ao ambiente e à saúde da sociedade, movimentos alternativos, estruturados em volta da ciência da Agroecologia, vêm em contraponto apresentar técnicas de produção agrícola mais sustentáveis para produtos mais seguros. Campos dos Goytacazes/RJ possui 64,3% dos estabelecimentos rurais com perfil familiar, sendo as feiras a principal forma de comercialização via Cadeias Curtas de Abastecimento de Alimentos. Este trabalho avaliou as feiras de alimentos em atividade no município, criadas a partir do ano de 2017, segundo os parâmetros da Agricultura Familiar e da adoção de práticas agroecológicas. Para tal, foram realizadas as etapas: levantamento das feiras em atividade; coleta de dados nessas feiras; avaliação das feiras para as duas características citadas; elaboração de perfis das feiras selecionadas, feirantes e consumidores. No perfil global, é destaque a forte participação feminina enquanto feirantes, com satisfação dos consumidores de 80% para “totalmente” e “muito” satisfeitos. As quatro feiras possuem forte influência na conexão direta entre produtores e consumidores, contribuindo para uma melhor remuneração aos produtores e maior oferta de produtos mais saudáveis aos consumidores, além do incentivo às relações justas e sustentáveis entre circulação de renda e consumo. Se organizadas em forma de circuito, podem ser um grande incentivo na organização da cadeia produtiva do alimento local junto à agricultura familiar e produzido com base ecológica.
Palavras-chave: agroecologia; agricultores familiares; alimento local; comercialização; cadeias curtas de
abastecimento de alimentos.
ABSTRACT: Food production in Brazil follows global production parameters supported by technologies of the so-called “Green Revolution”. Due to its harmful impacts on the environment and the health of society, alternative
movements, structured around the science of Agroecology, come in counterpoint to present more sustainable
agricultural production techniques for safer products. Campos dos Goytacazes/RJ has 64.3% of rural
establishments with a family profile, with fairs being the main form of commercialization via Short Food Supply
Chains. This work evaluated trade fairs foods in activity in the municipality, created from the year 2017,
according to the parameters: “agriculture Family” and “adoption of agroecological practices”. To this end, the
following steps were carried out: survey of fairs in activity; data collection at these fairs; evaluation of fairs for
the two characteristics mentioned; preparation of profiles of selected fairs, stallholders and consumers. In the
global profile, the strong female participation as stallholders, with consumer satisfaction from 80% to
“completely” and “very” satisfied. The four fairs have a strong influence on the direct connection between
producers and consumers, contributing to better remuneration for producers and a greater supply of more healthy to consumers, in addition to encouraging fair and sustainable relationships between income circulation and consumption. If organized in the form of a circuit, they can be a great incentive in the organization of the chain production of local food alongside family farming, produced on an ecological basis.
Keywords: agroecology; family farmers; local food; marketing; short food supply chains.
1 INTRODUÇÃO
O município de Campos dos Goytacazes/RJ tem população de 520.113 habitantes, segundo Censo 2022 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) (2022). No território, são 4.972 estabelecimentos classificados como agricultura familiar, com 10.255 pessoas ocupadas, segundo o Censo Agropecuário IBGE de 2017, com perfil familiar predominante em 64,3% desses estabelecimentos rurais.
A força desse grupo social, em um município com vocação agrícola, aponta a agricultura de base ecológica como uma opção de produção, visto, dentre outros fatores, o custo elevado da aquisição de agrotóxicos e adubação química, e o viés sustentável característico de movimentos pró-reforma agrária atuantes na formação desse público, como o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST). Há a proporção de 14,6% das
unidades produtivas localizadas em assentamentos da reforma agrária, com 814 estabelecimentos em assentamentos rurais (IBGE, 2017).
A produção local se adequa ao conceito de Alimento Local, apresentado por Coelho, Coelho e Egerer (2018), como aquele cultivado/produzido geograficamente próximo do consumidor, com características próprias que alinham o alimento ao seu local de produção, como algum valor ou significado cultural local.
Olhando o cenário numa visão mais ampla, como Sistema Alimentar Local, o agricultor familiar surge com sua produção local, e as feiras, enquadradas como Cadeias Curtas de Abastecimento de Alimentos (CCAAs), como principal forma de escoamento de produtos geridos por esse público. Desse modo, fica estabelecida uma conexão direta entre produtor e consumidor.
Considerando dois fatores: o consumo consciente de produtos mais saudáveis como um dos benefícios aos consumidores, e a busca do preço justo como remuneração ao trabalho do agricultor familiar, a consolidação do espaço de comercialização das feiras permite grande avanço no fortalecimento de um sistema alimentar local municipal. Assim, é objetivo deste trabalho analisar as experiências de feiras de produtos alimentícios com relação a dois parâmetros: sua associação ao perfil da agricultura familiar, e o sistema de produção possuir
viés agroecológico.
2 AGROECOLOGIA E AGRICULTURA FAMILIAR
Em contraponto ao modelo convencional de agricultura, surgiram movimentos diversos com a proposta de uma produção agrícola mais sustentável, A fim de criar harmonia entre aspectos sociais, econômicos, ecológicos, políticos e culturais, agricultores, pesquisadores e técnicos evoluíram para um conceito de agricultura de base ecológica. Dentre as linhas filosóficas sustentáveis de agricultura surgidas, Feiden (2005) destaca: agricultura
orgânica, agricultura biodinâmica, agricultura biológica, agricultura ecológica, agricultura natural, permacultura, agricultura regenerativa e agricultura sustentável.
A agroecologia, uma ciência surgida entre as décadas de 1970 e 1980, vem dar suporte teórico a essas diferentes correntes de agricultura em desenvolvimento desde a década de 1920, unindo todas essas bases de produção com sustentabilidade (Assis; Romeiro, 2002; Darolt, 2000). Enquanto desenvolvimento prático, o movimento se apresenta como Sistema de Produção Agroecológico (SPA).
Santos et al. (2014) apresentam os agricultores familiares alinhados a esse modelo produtivo, por seu perfil mais próximo a maior interação com o ambiente natural, enquanto grupos e território de ação. No mundo são por volta de 500 milhões de propriedades familiares, segundo dados de Lowder, Skoet e Raney (2016).
O termo “agricultor familiar” é tipificado pela lei n° 11.326/2006 (que estabelece as diretrizes para a formulação da Política Nacional da Agricultura Familiar e Empreendimentos Familiares Rurais), como: “Art. 3o Para os efeitos desta Lei, considera-se agricultor familiar e empreendedor familiar rural aquele que pratica atividades no meio rural, atendendo, simultaneamente, aos seguintes requisitos: I – não detenha, a qualquer título, área maior do
que 4 (quatro) módulos fiscais; II – utilize predominantemente mão-de-obra da própria família nas atividades econômicas do seu estabelecimento ou empreendimento; III – tenha percentual mínimo da renda familiar originada de atividades econômicas do seu estabelecimento ou empreendimento, na forma definida pelo Poder Executivo; (Redação dada pela Lei no 12.512, de 2011) e; IV – dirija seu estabelecimento ou empreendimento com sua família” (Brasil, 2006).
Assis e Romeiro (2002) citam que a base da atividade da agricultura familiar é a posse dos meios de produção e o envolvimento de toda a família no processo produtivo, enquanto moradores da unidade produtiva. O produto gerado tanto pode ser para a subsistência quanto para o mercado. Os autores destacam que as estruturas de produção diversificadas, passíveis de monitoramento e controle do processo de trabalho apoiam a premissa de que os sistemas familiares de produção estão mais bem articulados para realizar as práticas agroecológicas que o sistema de produção convencional.
Segundo o censo agropecuário 2017, os agricultores familiares em Campos dos Goytacazes/RJ são responsáveis por mais de 60% da produção municipal de culturas como abacaxi, feijão e milho (77%, 88% e 68% respectivamente). Para cana-de-açúcar, abóbora e mandioca cobrem 18%, 47% e 59% da produção municipal, respectivamente. Para as lavouras perenes são destaques as culturas de maracujá, banana e laranja, com 28%, 61% e 86% respectivamente (IBGE, 2017).
Ainda no contexto acima, quando associados a práticas culturais, 89,6% de estabelecimentos de agricultura familiar do município não fazem uso de agrotóxicos, 71,9% não utilizam nenhum tipo de adubação, sendo que, entre os que adubam as culturas agrícolas, 36,5% declararam que ela é de origem orgânica (IBGE, 2017). Essas práticas produtivas são parte das premissas do sistema de produção agroecológico.
2.1 Feiras como Cadeias Curtas de Abastecimento Alimentar (CCAA)
As feiras livres podem ser consideradas como uma das principais cadeias curtas de abastecimento de alimentos da população brasileira. Nesses mercados, a figura do atravessador, geralmente apresentada de forma negativa, é eliminada, e o agricultor passa a ter a oportunidade de agregar valor ao seu produto e ao seu trabalho. Com a maior aproximação das partes interessadas na comercialização, as feiras mantêm circuitos comerciais simbólicos
e interação/integração social. Os consumidores passam a ter acesso aos alimentos reconhecidos por sua cultura e hábitos de consumo locais, visto que a produção é local (Brasileiro, 2010; Pozzebon; Rambo; Gazzola, 2018).
As CCAAs podem ser classificadas em três grupos: interação face a face, marcada pelo contato direto entre produtor e consumidor; relações de proximidade, em que o caminho do produto ofertado e adquirido passa por uma construção articulada numa rede de produtores e consumidores; e relações de proximidade estendidas, que consideram a comercialização fora do território local, e tem como ponto crítico a demanda de relações institucionais, adoção de códigos e ação de mediadores para a eficiência de conexão produtor-consumidor. As feiras integram o primeiro grupo (Renting; Marsden; Banks, 2003).
O grande diferencial das feiras agroecológicas em comparação às feiras convencionais é a comercialização de produtos com qualidade e a pluralidade das relações estabelecidas. Além disso, a colheita dos produtos realizada no mesmo dia em que eles são comercializados evita a perda da qualidade física, sensorial e nutricional dos alimentos ofertados (Brasileiro, 2010; Silva, M. N. et al., 2017).
As feiras são frequentemente realizadas em espaços públicos, e podem gerar, segundo Leal, Lobo e Chaves (2018), novas formas de uso desses espaços, com sua transformação em lugares dotados de significados. Ao serem preenchidos por interações humanas, entre feirantes, consumidores e público visitante, podem superar a limitada comunicação expressa em uma relação comercial. As autoras apontam que, diferente de uma compra em pontos de comercialização convencionais, como supermercados ou hortifrutis, nas feiras, pelo contato direto com o produtor, gera-se uma interação peculiar. Por essa relação é possível saber mais da origem dos produtos negociados, e pode-se dizer que os alimentos vêm com rótulo, nome e sobrenome em seu certificado de origem.
3 MATERIAL E MÉTODOS
A presente pesquisa se baseia no método dedutivo, com natureza aplicada, abordagem tanto qualitativa, quanto quantitativa. O objetivo alterna entre as formas exploratória e descritiva, com procedimento experimental múltiplo, abordando a consulta bibliográfica e documental, pesquisa de campo, além da coleta de informações na forma de observação direta de locais, cenários e comportamentos.
3.1 Local de estudo, abrangência social e temporal
Este trabalho foi desenvolvido em Campos dos Goytacazes/RJ – Brasil, município de 463.731 habitantes, segundo o Censo do IBGE 2010 (IBGE, 2010).
O estudo abrange o grupo social da agricultura familiar, e o sistema de produção agroecológico como pontos-chave nas análises sobre a comercialização agrícola por meio das feiras. Para tal, foram adotadas as seguintes definições:
- a) Articulação, Articuladora ou Entidade Articuladora: as entidades gestoras ou grupos informais de agricultores familiares responsáveis pelo processo de organização da feira enquanto espaço de comercialização, incluindo a organização do espaço físico, infraestrutura das bancas, articulação e cadastro dos agricultores, bem como a organização dos feirantes no local de feira;
- b) Feirante: agricultor ou agricultora familiar, que desenvolve, ainda que parcialmente, o sistema de produção agroecológico, assim identificado mediante autodeclaração, ou declaração da articuladora enquanto grupo de pessoas;
- c) Consumidor: pessoa que adquire produto comercializado no local da feira;
- d) Feira: iniciativa de comercialização por articulação. Os espaços de comercialização criados e coordenados pela mesma entidade articuladora foram considerados como locais de atendimento ou pontos de venda;
- e) Ponto de venda: local onde estão estruturadas as bancas de venda para benefício dos feirantes e consumidores.
O recorte temporal faz referência à organização das redes agroecológicas, enquanto atividade de pesquisa e extensão iniciada em 2017, na Universidade Estadual do Norte Fluminense (UENF), em parceria com a Incubadora Tecnológica de Empreendimentos Populares da universidade (ITEP/UENF).
O trabalho foi desenvolvido em cinco etapas:
1) seleção das feiras em atividade, com origem relacionada ao marco temporal de referência;
2) coleta de dados junto às feiras selecionadas;
3) avaliação das feiras em atividade acerca de sua aderência aos temas “agricultura familiar” e “agroecologia”, pela aplicação do Índice de Avaliação das Feiras Agroecológicas da Agricultura Familiar – IFeiras;
4) elaboração dos perfis das feiras agroecológicas da agricultura familiar, feirantes e consumidores, de forma individual, posteriormente global.
3.2 Identificação e coleta de dados nas feiras em atividade
A fim de identificar as feiras da agricultura familiar em atividade no município de Campos dos Goytacazes/RJ, foi realizada uma consulta de dados junto ao poder público municipal e a entidades de atuação local como: organizações da agricultura familiar e agroecologia, entidades de assistência técnica e extensão rural, instituições de ensino, pesquisa e extensão, dentre outras que surgiram como referência nessa fase da pesquisa. Foram solicitados dados via digital por meio de e-mails referência.
Como segunda estratégia de busca, foram investigadas referências de feiras locais por meio de registros em literatura científica e no portal Google, com validação das referências junto às entidades articuladoras, personagens históricos associados, ou visitação a feira. Nessa etapa foram consultados: nome da feira; local ou locais de realização; e articuladores. Em seguida, com vias à consolidação dos dados, foram buscadas as informações: número aproximado de feirantes; data de início de atividades e, se caso inativas, tempo aproximado de existência.
Com base nos dados levantados, foi aplicado o marco temporal como referência e definição das feiras do Quadro 1 e Figura 1.
Quadro 1 – Feiras da agricultura familiar ativas em Campos dos Goytacazes/RJ até março de 2023

Figura 1 – Cenário das Feiras Agroecológicas da Agricultura Familiar de Campos dos Goytacazes/RJ em atividade no primeiro trimestre de 2023.

Foram realizadas entrevistas com os três grupos envolvidos na realização da feira: entidades articuladoras, feirantes e consumidores. As entidades articuladoras foram entrevistadas utilizando-se perguntas abertas; os feirantes e consumidores responderam formulários semiestruturados nos locais de realização das feiras.
Foram entrevistados: três entidades articuladoras, um coletivo articulador, 20 feirantes e 23 consumidores nos seis pontos de comercialização das quatro feiras (Quadro 1) entre 29/10/2022 e 05/04/2023. As entrevistas foram realizadas entre 10h e 13h, considerando o período médio do horário de feira como de maior presença de consumidores.
As entrevistas com as entidades articuladoras foram utilizadas na composição do perfil dos grupos. Foram entrevistadas três pessoas representando três entidades e um coletivo. O coletivo entrevistado será chamado neste trabalho de “Coletivo Agroecológico pela Agricultura Familiar e Campos dos Goytacazes/RJ” (CAAgF-CG).
Aos feirantes foi realizada abordagem por meio de censo, considerando todos responsáveis por banca que comercializam produtos da agricultura em um dia de feira. Entende-se que os feirantes são parte da estrutura da feira, com a inviabilidade da existência desta sem sua presença e de seus produtos para comercialização.
Para obtenção das informações dos consumidores, foram entrevistados aqueles que estavam presentes no local de comercialização, com a busca da proporção de 1:1 com relação ao número de feirantes entrevistados nesses locais.
Considerando a feira um ambiente plural e dotado de significados, além do processo de comercialização, foi observada a participação do público presente no espaço de forma livre e independente. Foi registrado o uso do espaço da feira como lazer, interação social, passeio familiar e como parada para lanche.
3.3 Avaliação enquanto feiras agroecológicas da agricultura familiar
Os dados obtidos na etapa anterior foram aplicados ao Índice de Avaliação de Feiras Agroecológicas da Agricultura Familiar para a avaliação dos canais de comercialização, enquanto espaços agroecológicos desenvolvidos por pessoas da agricultura familiar. O índice foi desenvolvido de forma similar aos propostos por Santos et al. (2020) e Ferreira (2021).
O índice consta dos seguintes critérios:
Diversidade de produtos (CDiversidade): analisa a oferta de produtos em variedade de itens na feira, considerando como parâmetro comparativo a disponibilidade de produtos em mercados de uso comum pela população;
Participação da Agricultura familiar (CAF): tem foco na informação declaratória da participação de agricultores familiares feita pelas entidades articuladoras, enquanto critério de participação no espaço de comercialização;
Uso de agrotóxicos (Agrotóxicos): analisa a declaração do agricultor sobre o uso de agrotóxicos, enquanto ponto excludente importante ao sistema de produção agroecológico;
Uso de adubos solúveis (Adubação): analisa a declaração do agricultor sobre o uso de adubos solúveis, enquanto ponto excludente importante ao sistema de produção agroecológico;
Nível de adoção de práticas agroecológicas (Agroecologia): qualifica as respostas dos agricultores sobre a adoção das práticas mais comumente adotadas pelo sistema de produção agroecológico: rotação de culturas, consórcio de culturas, adubação verde, adubação orgânica e compostagem.
Aos critérios foram aplicados parâmetros com atribuição de notas em escala gradual de 0 a 3, com subsequente divisão por 3 (ponto máximo da escala) para a padronização das notas finais ao intervalo de 0 a 1. Mecanismo apresentado na equação 1.

Para a atribuição de nota da escala, segundo opções dos parâmetros, coube ao entrevistador analisar as respostas obtidas nas entrevistas / formulários, aliadas à sua percepção sobre o ambiente de comercialização. De forma complementar, a Observação Não-Participante e registro fotográfico estiveram previstos para utilização como base. A forma de cálculo do IFeiras está enunciada na equação 2.

Ao critério Diversidade de produtos foi definido como mercado referência da pesquisa uma unidade de uma grande rede de supermercados do município. Em visitas realizadas nos dias 24 de fevereiro e 10 de julho de 2023, foram constatados para comercialização 76 produtos, entre 44 alimentos in natura e 32 produtos processados.
Durante a observação dos alimentos in natura foram considerados como referência aqueles produzidos ou com potencial de produção em Campos dos Goytacazes/RJ e mesorregião Norte Fluminense. O mesmo critério foi aplicado aos produtos processados, visto a sua relação direta com algum alimento in natura na formulação e apresentação do produto final. Nessa lógica, produtos como maçã, pera e geleia de framboesa não foram relacionados.
Com relação ao enquadramento como Feiras Agroecológica da Agricultura Familiar, o índice classificou as feiras segundo a escala de pontos: 0 a 0,70: Não enquadrada; e 0,71 a 1: Enquadrada.
3.4 Elaboração dos perfis das feiras, feirantes e consumidores
Os dados das quatro feiras apresentadas no Quadro 1 foram utilizados para a criação dos perfis das feiras em atividade, tendo como parâmetros os feirantes e consumidores. As informações foram organizadas em caráter global, com o comparativo dos perfis individuais. Os dados apurados junto às entidades articuladoras foram utilizados para consolidar os perfis criados.
Aos consumidores, por não se consolidarem como parte da estrutura da feira, é facultada a ausência, com oscilações possíveis de baixa ou alta frequência de presença nos pontos de comercialização. Considerando essa participação mais itinerante e aleatória, esse grupo de entrevistados foi considerado como grupo único, seus dados coletados foram considerados como globais ao conjunto de feiras estudado, em detrimento das feiras
individuais.
4 RESULTADOS E DISCUSSÃO
Foram avaliadas quatro feiras em atividade no município de Campos dos Goytacazes (Quadro 1), articuladas pela ITEP/UENF, ACUPACC, PMCG e CAAgF-CG, com participação de integrantes da agricultura familiar e disponibilização de produtos alimentares com viés agroecológico, nas manhãs de terça-feira a sábado. A UENF merece destaque por ser local da Feira Agroecológica da Economia Solidária e da Feira Agroecológica Solidária Sabores e Saberes de Campos.
As feiras foram consideradas “Adequadas” aos dois parâmetros analisados pelo Índice de Avaliação das Feiras Agroecológicas da Agricultura Familiar, conforme memória de cálculo apresentada na Tabela 1.
As feiras ativas avaliadas possuem como premissa para participação como feirantes o enquadramento ao grupo da agricultura familiar, conforme informado por todas as entidades articuladoras, feita de forma livre e voluntária. As feiras possuem periodicidade semanal, com até 25 feirantes cadastrados (Quadro 3).
Tabela 1 – Memória de Cálculo do Índice de Avaliação das Feiras Agroecológicas da Agricultura Familiar para as feiras ativas de Campos dos Goytacazes/RJ A) Critério Diversidade de Produtos; B) Critério Participação da agricultura familiar; C) Critério Uso de Agrotóxicos; D) Critério Nível de adoção de práticas agroecológicas; e E) Índice Final com classificação


A maioria das feiras é realizada em espaços abertos e públicos, como praças e calçadas. Em contraponto está o perfil da Feira Agroecológica da Economia Solidária, que vem sendo realizada em espaços fechados, em geral instituições como universidades, nos campi da UENF, IFF campus Campos-Guarus. Similar ao perfil destacado, está a Feira Agroecológica da Economia Solidária e é encontrado na Polifeira da Universidade Federal de Santa Maria, e na Feira de Economia Solidária e Agroecologia na Universidade Federal de Juiz de Fora (Alves; Oliveira; Caciano, 2021; Specht et al., 2019).
A realização da comercialização em espaço aberto torna esse local como parte da agenda municipal, visto que a atividade da feira, com dia e hora marcados, proporciona o uso comunitário do espaço, antes considerado como de passagem. Leal, Lobo e Chaves (2018) apontam a feira como um evento; e Silva, Miranda e Castro Junior (2014), como um ambiente festivo.
Nora e Zanini (2015) salientam que a feira também abriga frequentadores do local, utilizando o espaço para lazer e para encontros. Na Feirinha de Camobi, em Santa Maria/RS, os autores relataram que alguns frequentadores o fazem simplesmente para visitar ou sentar-se junto aos feirantes.
Os espaços de comercialização das quatro feiras avaliadas possuem apoio da PMCG quanto à logística de transporte de produtos e feirantes, e da EMATER-Rio na disponibilização de barracas para os feirantes. A exceção é a Feira Agroecológica da Economia Solidária, que opta por construir sua estrutura de feira de forma coletiva entre os feirantes e a articuladora, com base no apoio mútuo e no espaço disponível. A interação coletiva tem como intuito preservar a autogestão e fomentar a solidariedade.
Foi verificado que na articulação das feiras há forte envolvimento dos agricultores, com mediação de entidades, de grupos representativos organizados e do poder público municipal. Como exemplo, verificou-se a participação do MST e do MPA no CAAgF-CG, enquanto coletivo articulador de feiras em Campos dos Goytacazes/RJ. Dados das entidades articuladores são apresentados no Quadro 4.

O Coletivo Agroecológico pela Agricultura Familiar em Campos dos Goytacazes/RJ, articulador da Feira Agroecológica da Agricultura Familiar de Campos dos Goytacazes/RJ, é uma organização composta pelas seguintes entidades e grupos sociais: ACUPACC, UENF, UFF, MST, MPA, CPT, PMCG, IFF, EMATER-Rio e Diocese de Campos dos Goytacazes/RJ. O Coletivo foi criado pela proposta de aumento da oferta de produtos agroecológicos para a população, por meio da abertura de novos pontos para escoamento da produção dos agricultores e agricultoras com esse viés produtivo.
As feiras foram analisadas como um sistema composto por articuladoras, enquanto gestoras, e feirantes e consumidores, enquanto interlocutores diretos da comercialização. Após a integração dos dados obtidos nesse sistema, os principais temas foram agrupados segundo resposta dos feirantes e consumidores.
O perfil social da feira traz de um lado a predominância feminina, com 73% das feirantes; e de outro a masculina, com 52% dos consumidores.
Outros estudos apontam participação feminina no comando das bancas de 90%, 73%, 70%, 62%, 60% e 55%, respectivamente em Cruz das Almas/BA, Conceição do Mato Dentro/MG, Ilhéus/BA, Pato Branco/PR, Capanema/PA, e Distrito Federal. Em contraponto, em Lagoa Nova/RN, 72% dos feirantes são do sexo masculino (Araújo; Furukava; Oliveira, 2019; Cardoso, 2019; Gomes et al., 2016; Kiyota et al., 2021; Padilha et al., 2022; Pereira; Brito; Pereira, 2017; Silva, J. F. et al., 2017).
Rocha et al. (2010) e Luz et al. (2021) verificaram perfil de consumidores similar ao encontrado em Campos dos Goytacazes/RJ, com predominância masculina em Passo Fundo/RS e Barra do Garças/MT. Cenário para predominância feminina, com 70,7%, 61,4% e 54,8%, foi encontrado respectivamente em Fortaleza/CE, Lagoa Nova/RN e Dom Pedrito/RS (Araújo; Furukava; Oliveira, 2019; Costa et al., 2022; Nascimento et al., 2020).
Os feirantes são em sua maioria oriundos de Campos dos Goytacazes/RJ. Por exemplo, a Feira Agroecológica da Agricultura da Familiar de Campos dos Goytacazes/RJ apresentou apenas 6% de feirantes de São Francisco do Itabapoana/RJ e de São João da Barra/RJ, sendo 94% oriundos de Campos dos Goytacazes, enquanto, nas demais feiras 100% dos feirantes são de Campos dos Goytacazes. A feira em questão é articulada por um colegiado de instituições, o que pode explicar essa participação externa ao município. Por outro lado, as articuladoras ACUPACC, ITEP/UENF e PMCG declararam adotar como critério de origem para o agricultor familiar ser exclusivamente de Campos dos Goytacazes/RJ.
O envolvimento na construção da feira é marcado pelo percentual de fidelidade à feira acima de 60% para feirantes e consumidores no quesito “Permanente/Fixo” (Tabela 2). Os feirantes possuem a característica da recorrência, com a ocupação de bancas em diversas feiras durante a semana, com efeito similar aos consumidores que compram em vários espaços do município.

Observação: Os valores referem-se a citações feitas pelos entrevistados, com possibilidade de menção de mais de uma opção por pessoa.
A feira com mais participações de feirantes foi a Feira Agricultura Familiar e do Pescado com 42% de menções. No universo dos consumidores, a Feira Agroecológica Solidária Sabores e Saberes de Campos figurou em 29% das menções. Vale destacar a Feira da Roça (PMCG), não analisada neste trabalho devido ao marco temporal de criação de feiras fixado, também figurada como espaço de venda dos agricultores em 12%, com boa
preferência dos consumidores, com 43% de citações.
A fidelidade de compra é um desafio constante daqueles que ofertam produtos e serviços. Zanella et al. (2023) apontam que clientes satisfeitos ainda podem procurar outros prestadores de serviço, sendo necessária uma experiência de comercialização que ultrapasse expectativas. A confiabilidade dos compradores referente à origem dos produtos ofertados pode ser um fator importante ao atendimento dessas expectativas. Na feira da agricultura familiar e economia solidária do centro administrativo de Natal/RN a fidelidade à compra é de
73% (Sabino; Santos; Santos, 2022).
Enquanto agricultores familiares, quando perguntados sobre estarem associados/registrados a entidades articuladoras de feira, 73% dos feirantes responderam positivamente, com entrevistados associados a mais de uma entidade. No universo de quatro entidades e grupos citados, a ACUPACC e a ITEP/UENF – Rede de Produtores Agroecológicos de Campos foram as mais referenciadas com 51% e 40%, respectivamente.
Fechando a lista estão a Feira da Roça com 6% e o Projeto BioHorta – UENF com 3% das menções.
O projeto BioHorta é projeto de extensão da UENF voltado ao desenvolvimento de tecnologias em apoio a programa municipal de hortas urbanas.
Com relação à renda, em valores médios, os consumidores têm disponibilidade de investir semanalmente valor próximo a R$ 70,00, apurando aos feirantes uma arrecadação obtida pela venda de 156,00. Dados da pesquisa apontam extremos de R$ 50,00 e R$ 400,00 recebidos pelos feirantes, individualmente, e uma disponibilidade de compra entre R$ 20,00 a R$ 250,00 para os consumidores. O conjunto de feiras em uma semana, considerando o
somatório das médias de renda individuais declaradas pelos feirantes nos seis pontos de feira, movimenta potencialmente cerca de R$ 5 mil por semana.
Na literatura verificou-se que consumidores têm disponibilidade de investir semanalmente valores que variam de R$20,00 a R$ 90,00, sendo entre R$ 20,00 e R$ 32,00 em Passo Fundo/RS, R$ 20,00 a R$ 90,00 em São Lourenço do Sul/RS, e média de R$ 40,00 em Cruz das Almas/BA (Cardoso, 2019; Pacheco-Porto; Chuquillanque 2021; Rocha et al., 2010).
Foi verificado nas quatro feiras que, em média, os agricultores/feirantes destinam para a venda 60% dos alimentos por eles produzidos. Por sua vez, 90% dos consumidores demonstraram disposição em pagar valores adicionais por produtos agroecológicos. Resultado próximo foi apresentado por Padilha et al. (2022) com a disposição de 80% em pagar mais por produtos avaliados como de melhor qualidade. Em São Paulo/SP, entre consumidores de orgânicos, a taxa de aceitação por preços maiores foi de 58,3% (Gonçalves et al., 2019). Tais fatores reforçam a confiabilidade do consumidor no sistema de feiras, com 95% de confiança na procedência dos produtos ali adquiridos.
Verificou-se que 80% dos consumidores estão altamente satisfeitos com as feiras, se considerados os parâmetros “Totalmente” e “Muito” satisfeitos (50% + 30%), com 15% de “Satisfeitos” e apenas 5% “Pouco satisfeitos”. Esse parâmetro, somado à nota média de 7,89 (0 a 10) dada pelos consumidores para as feiras estudadas, aponta uma forte relação entre feirantes e consumidores, nesse canal curto de comercialização. Em Sobral/CE, a confiança na
procedência dos produtos da feira de agricultores familiares foi de 73% (Castro et al., 2020).
A percepção do consumidor nas feiras de Buritizeiro e Lagoa dos Patos, ambas em Minas Gerais, se aproxima do índice do presente estudo. Santos Júnior, Barros e Mendes (2021) encontraram os maiores índices associados para a máxima satisfação de 39,4% e 40%, respectivamente.
Os locais das quatro feiras avaliadas agradam a maioria dos consumidores com 90% de aprovação, bem como sua frequência em 85% dos consultados. A proximidade da casa é fator importante para consumidores em Chapecó-SC e em Natal/RJ (Sabino; Santos; Santos, 2022; Zanella et al., 2023). Entretanto, segundo opinião de 63% dos consumidores entrevistados, não há suficiente número de feiras de produtos mais saudáveis em Campos dos Goytacazes/RJ.
A relação de consumo com a escolha da feira como opção de oferta de produtos mais saudáveis se alinha com a importância da agroecologia na produção. Consultados feirantes e consumidores sobre qual a principal razão para a participação nas feiras, o maior percentual de resposta teve relação com a melhor qualidade dos produtos. Destaque para “Qualidade dos Alimentos” para 29% dos feirantes e “Produtos mais naturais” e “Qualidade dos produtos” com 18% e 15% de menções, respectivamente entre os consumidores. O fortalecimento da agricultura familiar também foi relevante no universo geral da pesquisa. Por outro lado, Delicato et al. (2019) citam a tendência de muitos consumidores continuarem a optar pelos supermercados em detrimento da compra de produtos locais, devido à influência de fatores como o tempo e a acessibilidade. A feira como um evento de dia e hora marcados, não favorece ao público citado pelos autores.
Quando agrupadas em categorias, sobre a participação nas feiras e agroecologia, a saúde foi consenso na opinião de feirantes e de consumidores, com percentual acima de 60% das menções de respostas livres. Resultados similares foram encontrados junto a consumidores em Cruz das Almas/BA, Maceió/AL, Natal/RN e Pato Branco/PR (Cardoso, 2019; Kiyota et al. 2021; Lobo et al, 2019; Sabino; Santos; Santos, 2022).
Quanto aos produtos disponíveis para comercialização, nas quatro feiras, são ofertados 47 alimentos in natura, sendo 16 opções de frutas e 29 de olerícolas, o milho e os ovos. Merecem destaque a banana, alface e couve, olerícolas com mais de 40% de presença nas bancas, e o milho e os ovos com 9% e 24% de frequência. olerícolas, com destaque para banana, alface e couve com mais de 40% de presença nas bancas. Além desses, também foram mais frequentes o milho e os ovos com 9% e 24% de oferta. Foram disponibilizados 23 produtos processados, entre minimamente processados, processados e ultraprocessados. A oferta geral de plantas medicinais totalizou 71 produtos.
A grande variedade de produtos nas feiras agrícolas também foi registrada em Jordânia/MG e em Natal/RN, com destaque para olerícolas folhosas e frutas (Ayres; Oliveira; Ayres, 2022; Sabino; Santos; Santos, 2022).
Do lado do consumidor, foi declarado o costume de compra de 23 alimentos in natura, dos quais 19 foram encontrados nas feiras analisadas, sendo sete frutas, 11 olerícolas entre herbáceas, tuberosas e com frutos, e ovos como produto de origem animal. Destaque para a banana, alface, couve e tempero verde. Resultados similares foram encontrados em pesquisa realizada nos municípios mineiros de Buritizeiro e Lagoa dos Patos (Santos Júnior; Barros; Mendes, 2021). Entre os produtos processados foram citados dez itens, com destaque para a água de coco e papa de milho.
Enquanto CCAA, as feiras avaliadas cobriram cerca de 2,15 vezes os desejos de compra dos consumidores, pela oferta de 71 alimentos para comercialização contra 33 demandados pelos consumidores, numa disponibilidade de 39 produtos alimentícios adicionais e apenas quatro produtos in natura demandados não encontrados: batata, feijão, quiabo e vagem. Esses produtos foram informados como oferta potencial para momento de comercialização futuro. Vale ressaltar que os consumidores possuem hábito de comprar em outros pontos de comercialização fora das feiras em estudo, mas trazem sua lista de compras habitual para busca nas bancas de feiras agroecológicas.
A disponibilidade de aquisição de produtos na feira, enquanto CCAA, é relevante quando se trata da agricultura familiar. A oferta de alimentos com diversidade, se comparada ao desejo do consumidor, mantém e fortalece a confiabilidade na qualidade dos produtos comercializados. Segundo Cruz et al. (2021), consumidores ao longo do mundo têm demonstrado desconfiança com os alimentos dos sistemas de produção convencionais, como
observado na Espanha, Itália, Canadá e Austrália.
Quando consultados os feirantes sobre o sistema e as técnicas de produção adotados, foi apontada uma predominância de práticas simples associadas à agroecologia. Assim, 94% dos entrevistados não utilizam agrotóxicos e adubação química solúvel. A exceção foi um agricultor que comercializava abacaxi e coco-verde. Acredita-se que sua presença na feira foi por sua condição de agricultor familiar. Sobre a adoção de técnicas de produção, a adubação orgânica e o consórcio foram os únicos com adesão pelos feirantes em todas as feiras. Junto à rotação de culturas, as técnicas citadas possuem acima de 15% de menções no quadro geral
das técnicas de base ecológica realizadas.
A movimentação de público nas feiras foi considerada baixa, apesar da regularidade de realização das feiras em relação aos locais e à frequência. Nesse sentido é compreensível que haja uma baixa conscientização dos consumidores do município sobre o consumo de alimentos mais saudáveis, com menor teor de agrotóxicos em sua produção.
A divulgação dos espaços de feira é fator essencial ao sucesso da comercialização, e a necessidade de uma melhor divulgação pode ser considerada uma explicação à baixa frequência de público. Esse ponto deficitário foi relatado também por Cardoso (2019) em Cruz das Almas/BA, e por Padilha et al. (2022) no Distrito Federal.
Em suma, as feiras de Campos dos Goytacazes/RJ, classificadas dentro do escopo da agricultura familiar com viés agroecológico, trazem o seguinte perfil:
o 33 feirantes comercializando produtos agrícolas;
o 21 agricultoras e agricultores familiares envolvidos;
o participação em mais de uma feira para sete agricultoras e agricultores familiares, em 13 bancas;
o atendimento de terça-feira a sábado em seis pontos de comercialização, em quatro
bairros do município (vide Quadro 3).
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
As quatro feiras com participação da agricultura familiar, com viés agroecológico, avaliadas neste trabalho, possuem forte influência na conexão direta entre produtores e consumidores, contribuindo para uma melhor remuneração aos produtores e maior oferta de produtos mais saudáveis aos consumidores, além do incentivo às relações justas e sustentáveis entre circulação de renda e consumo.
As feiras, apesar do baixo público, atendem parcialmente aos consumidores na área central do município e adjacências. Esse atendimento fica restrito ao público conscientizado sobre o consumo de produtos mais saudáveis. Nesse sentido, a ampliação de feiras e a criação de campanhas de informação tornam-se importantes para o acesso, a sensibilização e a conscientização de maior parcela da população sobre a melhor qualidade de vida e saúde que os produtos agroecológicos podem proporcionar. Em maior análise, a demanda de alimentos
agroecológicos para o âmbito territorial municipal ainda requer atenção das organizações de agricultura familiar e do poder público.
É possível considerar que os perfis das feiras ativas, associados às agricultoras e aos agricultores familiares com sistema de produção agrícola com viés agroecológico, têm grande de integração, visto a forte articulação entre feirantes e consumidores.
O aumento de pontos de feiras durante a semana fortaleceria o movimento de pessoas já existente, como potencial sensibilização ao público ainda não participante desse espaço social.
Essa experiência de CCAA bem sucedida em Campos dos Goytacazes tem grande possibilidade de desenvolvimento em um nível superior de organização, de forma coletiva e participativa no formato de um circuito de feiras, levando em consideração a adesão da agricultura familiar e as práticas da agroecologia. Essa estruturação poderia ser um grande incentivo na organização da cadeia produtiva do alimento local junto à agricultura familiar, com produção com base ecológica.
1 Engenheiro Agrônomo, Doutorando e Mestre em Produção Vegetal pela Universidade Estadual do Norte
Fluminense Darcy Ribeiro, Brasil. Email: sf.marcelo@gmail.com
2 Doutor em Fitotecnia (Produção Vegetal) pela Universidade Federal de Viçosa, Brasil. Professor Associado I
da Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro, Brasil. Email: fcoelho@uenf.br
3 Doutor em Economia Aplicada pela Universidade Federal de Viçosa, Brasil. Professor Associado I da
Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro, Brasil.Email: pmsouza@uenf.br