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Entendendo a modernidade: a linearidade histórica

Por José Luiz Quadros de Magalhães

Um dos mecanismos que fundamenta a lógica hegemônica moderna é a percepção ideológica da história enquanto evolução, desenvolvimento, progresso em um único caminho cultural e temporal possível: a linearidade histórica.

A ideia de linearidade histórica, ainda estudada nas escolas modernas pelo mundo afora, cria a ideia de que existe um único caminho a ser percorrido em direção ao desenvolvimento (progresso, evolução) e que as diversas sociedades estariam em graus distintos de evolução. Note-se que podemos encontrar a expressão diversas civilizações, mas, o reconhecimento de diversas civilizações ocorre, geralmente no tempo. Ou seja, em tempos distintos temos civilizações distintas: o Egito antigo; a Índia; China; Grécia e Roma entre outras. Este geralmente é o formato dos livros didáticos em nossas escolas modernas. Ou seja, a Índia, a China, a Grécia, o Egito, foram importantes civilizações. Se elas foram, qual atualmente é?

Pode-se perceber, no estudo da história em geral ainda ensinada em algumas escolas modernas, que não é comum encontrar referências à existência de civilizações distintas convivendo em um mesmo momento de forma não hierárquica: sempre tem uma mais evoluída do que outra. Logo, quando essa convivência ocorre não há em geral uma referência a uma convivência pacífica e dialógica entre essas civilizações, mas um confronto de civilizações onde uma deve preponderar. Assim, uma delas estará sendo superada pela outra. Ou seja, de novo, o outro diferente é sempre subalternizado. O confronto entre um oriente (eles) e um ocidente (nós) é um dos motes modernos, onde o outro oriental, muçulmano ou asiático, é apresentado como perigoso, atrasado. É comum as referências na imprensa “livre” sobre as violências do oriente perigoso. O Irã dos Aiatolás; a China autoritária; a Coréia do Norte totalitária; a Arábia Saudita absolutista, todos estados que não chegaram à modernidade, pois não incorporaram os valores de “democracia” e “direitos humanos” do ocidente evoluído, desenvolvido. Não há, portanto, geralmente, civilizações convivendo de forma não hegemônica, com projetos distintos e possivelmente complementares. Há sempre a pretensão de uma civilização suplantar a outra. Em outras palavras, há um projeto civilizatório, que todos devem seguir para serem desenvolvidos, e este projeto é o ocidental. Com isto é encoberto, no senso comum, e mesmo no ensino nas escolas, a compreensão da história de outras civilizações em uma perspectiva plural não hegemônica, e como, e porque, por exemplo, os fundamentalismos religiosos se manifestam (seja cristão, muçulmano ou judeu), ou o porquê dos autoritarismos e totalitarismos.

Nesta linearidade histórica ouvimos mesmo absurdos como a expressão de modernidade tardia, ou capitalismo tardio, como se alguns países do continente “americano”, por exemplo, que foram chaves na construção do mundo capitalista moderno, só agora chegassem à modernidade e ao capitalismo evoluído. Ora, se existe este sistema econômico, ele se construiu enquanto tal, justamente com a exploração dos recursos naturais da América, África, Ásia e Oceania, e com a colonização, a opressão e incontáveis violências contra os povos originários destes continentes. O sistema mundo moderno não é mais Suécia ou os Estados Unidos, do que a Somália, o Paraguai, o Brasil, Burkina Faso, Congo ou México, ou qualquer outro estado nacional que se constitui a partir do projeto moderno e se inseriu neste projeto com papeis distintos, alimentando o sistema com mão de obra escrava e/ou barata; com recursos naturais, ou como consumidor destes recursos ou do produto no qual estes recursos foram transformados.

Este sistema só foi possível por que se constituiu enquanto um sistema global de exploração, guerras coloniais, escravidão e colonialidades.

Toda vez que escutamos expressões como “países desenvolvidos”; “países emergentes”; “em desenvolvimento”, “desenvolvidos”, está presente, é claro, um modelo de desenvolvimento, está reafirmada a falsa ideia de que há um único caminho a ser trilhado pela humanidade, e este caminho é determinado pela Europa (ou Europa e EUA), e que não nos resta escolha do que copiar o que esses países, que supostamente seriam mais evoluídos, fizeram.

Por esse motivo é fundamental descolonizar o saber, o poder e o ser. Devemos construir nosso próprio caminho, segundo nossa história, vontade, cultura e escolhas. São vários os caminhos possíveis, e ainda maior a possibilidade de construir outros diversos caminhos.

Sobre o autor: José Luiz Quadros de Magalhães é Presidente da Comissão Arquidiocesana de Justiça e Paz de BH; Professor da PUC Minas na graduação mestrado e doutorado.


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